Minha carteira de motorista venceu dia 8 de janeiro. Prevenido, fui tratar de renová-la. Como minha primeira habilitação é de 1993, tinha duas opções: passar de novo pela prova do Detran ou fazer um curso de reciclagem de três dias numa auto-escola. Optei pela segunda opção. Sabe como é, época de férias a fila no Detran pra marcar a prova é quilométrica e sua velocidade fica abaixo do mínimo permitido pelo Código Nacional de Trânsito.
Bom, mas vamos ao ponto. Já passei por dois dias do curso. Amanhã termina e recebo a nova carteira em casa. Sou o mais novo da minha turma que deve ter uma média de idade de 60 anos. Se somar tudo, acho que dá para retroceder até o nascimento de Cristo. Nestes dois dias escutei absurdos de todos os tipos. Vou citar dois (depois cito mais), pois acho que vale para exemplificar a média da conscientização do motorista brasileiro. Lá vai:
No primeiro dia de aula, quando a instrutora explicava sobre a importância do uso do cinto de segurança, um senhor de pouco mais de 60 anos, negro de cabelos grisalhos e com um óculos escursos a la Waldik Soriano, interrompeu a aula com seu testemunho pessoal:
_ Eu não uso cinto. Detesto. Sei que é lei, mas não uso. Pra mim ele não ajuda nada, só atrapalha. Imagina se eu cair num rio. Não vou conseguir tirar e acabo morrendo afogado. Já vi notícia desse tipo na televisão. Além do mais, o cinto só incomoda. Quando a gente para no posto passa o maior trabalho pra tirar a carteira do bolso de trás. Fica todo amarrado. Eu não gosto desse bota e tira. Não ando de cinto e pronto. Já levei três multas por causa disso. Ah, professora, isso dá quantos pontos na carteira?
A professora, sem jeito, tentou convencê-lo da importância do cinto, mostrou as estatísticas, falou da obrigatoriedade, dos riscos de não usá-lo e, por fim, disse que cada multa dava 3 pontos, o que não lhe tirava ainda o direito de dirigir. Mas caiu na besteira de informar que, após completado um ano da infração, os pontos zeram. Na bucha, o senhor respondeu:
_ Ah é? Pensei que ficava pra sempre. Agora mesmo é que não vou usar mais o cinto.
Nesta quarta, o homem agiu de novo, bem na hora que professora falava sobre o cuidado que devemos ter com a travessia de animais na pista.
_ Olha professora, nessa eu sou mestre, não tem perigo não. Tava dirigindo a noite, saindo da fazenda com o caminhão carregado de boi quando uma onça cruzou a minha frente. Não tive dúvida. Mirei nela e acelerei. Foi uma pancada só e lá tava a bicha estirada no chão. Tem que matar mesmo. É um bicho malvado e assassino.
A professora mais uma vez ficou sem ação. Ainda tentou argumentar que ele poderia ter perdido a direção do caminhão, que a onça podia ter voado no pára-brisa... Mas o senhor, do alto de sua sabedoria, dava de ombros:
_ Isso nem dá multa! Se passar outra eu mato de novo!
Nessa hora tive que interromper:
_ Não dá multa, mas dá cana. E pior: é crime ambiental e inafiançável. Vai direto pra cadeia. Tô achando que o senhor tá querendo é um bafo de onça no cangote!
No que ele respondeu:
_ Dá nada não, ninguém viu, tava escuro.
Pois bem, amanhã é o último dia de aula. Esse senhor vai receber seu certificado e a carteira renovada em casa.
Enquanto isso, o governo federal quer aumentar em 70% o valor das multas. Conscientização que é bom nada. Aliás, o governo é o maior infrator nessa área. Por lei é obrigado a investir 95% do arrecadado com multas na educação do trânsito. Ao invés disso, desvia para outras áreas. Nas palavras do meu companheiro de cursinho:
_ Dá nada não, ninguém viu, tava escuro.
Hora de ver quem são os democratas - Vera Magalhães
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*O Globo*
*Aqueles que devem seu sucesso eleitoral ao fato de terem sido ungidos por
Bolsonaro precisarão se decidir se seguem sob suas bênçãos *
Não é ...
Há uma hora
2 comentários:
Botelho,
conheço um "veínho" que roda em Brasília há mais de 30 anos e nunca tirou carteira de motorista.
abraço
Também fiz esse curso no ano passado, sexta a noite e sábado o dia todo. O foda é que eu não posso ver sangue, e quando foi a parte dos primeiros socorros, não assisti nada, ficava disfarçando e lendo alguma coisa... Ah, e eu também era a mais nova, só tinha pra cima de 50 lá, me senti a miss Brasil!!!
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