quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Deixando Deus de lado

O dia 16 de fevereiro de 2002 estava mais quente do que o costumeiro em Palmas, no Tocantins. Numa cidade que bate os 40 graus facinho, mais quente só o caldeirão do capeta. Pois naquele dia ele desembarcou na capital tocantinense algemado e cercado por um batalhão de agentes da Polícia Federal. Jader Barbalho estava preso.

Aquela visão recompensava dois anos de trabalho intenso, me locomovendo entre o Pará e Tocantins, fuçando pilhas de papéis, relatórios, cruzando informações e alimentando minha insônia. Enfim, um político acusado de corrupção estava na cadeia. Na caso de Jader, pesava contra ele denúncia do Ministério Público Federal de seu envolvimento com um desvio de R$ 1,7 bilhão da extinta Sudam. Mais: era apontado como o chefe da quadrilha.

Jader já havia largado a presidência do Senado e renunciado o mandato de senador para não ser cassado. Mesmo assim mantinha a pose. Desembarcou do jatinho da PF carregando o livro "Tempos muito estranhos" para enconder as algemas.

Depois de dois anos, os jornalistas que cobriam o caso não respeitaram o "chiqueirinho" reservado para a imprensa. Pulamos todos no encalço do ex-senador. As perguntas começaram de leve.

_ Senador, o senhor é acusado de comandar o desvio de R$ 1,7 bilhão da Sudam. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

Ele respondeu:

_ Acredito em Deus e ele vai provar que sou inocente.

Insistíamos:

_Mas senador, a polícia encontrou provas de desvio de dinheiro para o ranário de sua mulher...

Ele também:

_ Acredito em Deus e ele vai provar que sou inocente.

E apelávamos, com a PF querendo botar Jader no camburão.

_ Senador, mas várias pessoas já afirmaram em depoimento que o senhor levava 10% dos finnanciamentos da Sudam.

E o homem de novo:

_ Acredito em Deus e ele vai provar que sou inocente.

Foi aí que um repórter de uma TV local, que fazia um programa tipo Aqui Agora, perdeu a paciência.

_ Senador, deixando Deus de lado, o que nós queremos saber é se o senhor meteu ou não a mão nessa bolada.

Jader fechou a cara e preferiu entrar logo no camburão.

ps: Não resisti aos apelos dos colegas e acabei entrando na política. É bom ressaltar que, hoje, Jader é deputado federal, aliado de Lula, e articulador de peso dentro do PMDB. Foi o deputado mais votado do Pará, recebendo 311.526 votos.

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