quarta-feira, 29 de abril de 2009

Passagens e a farra do ki-suco

"Quero ver neguinho roubar sabendo que depois vai ter que devolver se for pego". A sadia provocação sobre a farra das passagens dos deputados, feita por meu colega Rogério Otto, o Dévio, me levou a elaborar o seguinte texto:

Todo mundo que rouba, sabe que pode ser pego. E sabe que pode ter que devolver. No entanto, ladrão e puta são as profissões mais antigas do mundo.

Vai dizer que tu nunca roubou nada?

Eu já roubei ki-suco na venda do Felício, ali nos Estreitos (bairro de Florianópolis). Até hoje, sempre que vou pra Floripa entro na birosca ressabiado. Certa vez fui lá e comprei uma caixa de ki-suco (na infância eu tinha afanado dois pacotinhos avulsos), paguei, e sai do local do crime antigo deixando o pacote, de propósito, no balcão. Mas não tive coragem de confessar meu delito infantil pro dono da venda. E, ainda por cima, descumpri o principal mandamento da malandragem: Nunca voltar ao local do crime.

As vezes a coisa descamba para "político é tudo filho da puta, ladrão...". Na verdade, eles são exatamente o reflexo da nossa sociedade. Do comerciante ganancioso, do guardinha corrupto, do banqueiro extorquidor, do padre sedutor de coroinha, do jornalista jabazeiro, do publicitário mentiroso (isso aí já é redundância), do traficante malhador, do taxista que turbina o taxímetro, do professor farsante, do funcionário público que passa o dia jogando paciência...

O que os deputados fizeram é um escândalo? É? É antiético? É. Mas deveria também servir de lição para cada um se patrulhar, olhar o próprio umbigo e se autocensurar para, nas coisas pequenas, também não promover sua farra pessoal do dia-a-dia.

Vou terminar citando uma histórinha do falecido Acioni Souza Filho, o delegado Presença da Deic de Santa Catarina.

Sempre que chegava um preso na sala, o Presença perguntava:

Tens passagem (na polícia)?

90% da malandragem respondia:

Não!

No que o delegado retrucava:

Então vai a pé!

...e caia na gargalhada.

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